Luciano Bivar avalia que teve um ano vitorioso à frente do Sport com a conquista do acesso à Série A (Foto: Lucas Liausu).
Em entrevista ao GloboEsporte.com, ex-presidente fala de sua gestão e afirma que dificilmente voltará a se candidatar a um cargo no clube: 'Já dei minha cota'.
O ano do Sport foi cheio de turbulências com as perdas da Copa do
Nordeste e do Campeonato Pernambucano e com os altos e baixos
apresentados na Série B do Campeonato Brasileiro. No entanto, no final
da temporada, o acesso para a Série A dava entender de que o clima no
clube iria se tranquilizar pelo menos até a próxima competição. Até que
uma notícia chegou para tocar fogo nos bastidores do clube:
Eleito no final do ano passado,
o presidente Luciano Bivar pediu licença
para disputar o cargo de deputado federal nas eleições de
2014.
Com o afastamento do presidente, o planejamento para 2014, que já começava a ser traçado por
Bivar teve que ser suspenso, já que o então vice-presidente, João
Humberto Martorelli, comandará o clube até o final de 2014 e, a partir de
agora, terá plenos poderes para tomar as decisões que quiser.
Já de fora do clube, Luciano Bivar conversou com a equipe do
GloboEsporte.com e fez um balanço do ano. Feliz com os resultados obtidos no futebol e na
parte financeira, ele garante que deixa a presidência de cabeça
erguida. No entanto, faz questão de afirmar também que dificilmente
voltará ao clube no cargo de presidente.
- Acho que já dei minha cota durante minha vida inteira do Sport e agora é a vez de outros fazerem isso.
Como foi o pedido de licença?
- Conversei
com o meu vice-presidente, João Humberto Martorelli sobre essa
possibilidade de ele assumir o clube por conta da minha condição como
candidato (a deputado federal, em 2014) e eu não queria misturar a minha
parte política com a parte esportista. Então foi isso que ficou
acertado e creio que vamos fazer grandes campeonatos no próximo ano.
Saio do Sport em um momento de completa estabilidade. Estamos na Série A
e tivemos um ano fiscal muito bom também.
O seu projeto para ser candidato a deputado federal
não é novo. As lideranças do clube sabiam dessa possibilidade de licença
há muito tempo?
- No dia que me chamaram para
ser candidato fiz um discurso anti-candidato. Só falei dos meus defeitos
e entre eles disse que tinha um problema porque em 2014 seria candidato
a deputado federal. Mesmo assim todos disseram que queriam que eu
entrasse e acabei aceitando.
O estatuto do clube prevê que a licença seja de seis meses. O senhor pretende voltar?- O
estatuto diz que posso renovar a licença. Tenho esses seis meses e
depois vou renovar. Já combinei isso com Martorelli para que ele fique
até o fim de 2014. Por isso a minha urgência em entregar o clube a ele
para que ele possa fazer as coisas à sua feição. É importante que cada
presidente tenha sua marca e o seu perfil.
O senhor acredita que, com Martorelli, o futebol do clube sofrerá muitas mudanças?- Eu
criei um conselho gestor que funcionou muito bem. Tenho que agradecer
muito a esse conselho gestor. Isso funcionou tanto que chegamos à
Primeira Divisão, mas eu confesso que não sei se ele vai ter o mesmo
modelo de gestão. Agora cabe a ele achar a melhor maneira de administrar
o futuro do Sport.
Com a saída de Bivar, planejamento para a temporada 2014 está atrasado no clube (Foto: Elton de Castro).
O senhor considera que foi vitorioso no futebol neste ano?
- Toda
gestão nova é difícil. A gente estava fora do futebol do Sport e
pegamos um time com uma série de jogadores que não estavam dentro do
perfil da nossa comissão técnica. Acho que foi uma vitória pelo tempo
que tivemos até remodelar isso. Em 1975 eu peguei o time e no primeiro
ano não consegui nada, mas no segundo coloquei na Série A. Agora
consegui isso no primeiro ano.
O Sport entra em 2014 com boas condições financeiras?
- Financeiramente
chegaremos um pouco melhor do que em 2013, pois não tivemos
patrocinador master e agora teremos. Também não teremos a folha paralela
em 2013, porque alguns jogadores serão dispensados agora no final do
ano. Teremos uma folha enxuta e otimizada.
Disse a Magrão que ele poderia ir para o partido nazista que isso não iria
interferir na permanência dele no Sport"
Luciano Bivar
O senhor pretende voltar ao clube no cargo de presidente?
- Eu
não posso dizer que não planejo porque estou desmoralizado com a minha
família e com os meus amigos, mas eu não tenho a menor intenção de ser
candidato novamente a presidente do clube. A presssão em casa e das
pessoas que nos amam é grande porque, quando presidimos um clube que o
fundamento maior é a paixão, as coisas são imprevisíveis. Acho que já dei
minha cota durante minha vida inteira do Sport e agora é a vez de
outros fazerem isso.
Por que a pressão dos familiares é tão grande?
- Só
quem vive o futebol sabe o que representa para os amigos ver um
repórter desavisado dizer que você é incompetente. O leitor ocular não
sabe se você é incompetente no clube, na vida profissional ou pessoal.
Isso dói e machuca. Só quem sofre agressão sabe disso e por isso as
pessoas que amam a gente preferem que a gente fique isento.
O senhor gostaria de ver um filho seu como presidente do Sport um dia?
- Não.
O futebol é muito emocional e, se não tiver uma estabilidade, pode
prejudicar sua conduta profissional e familiar. Tem que ter um
discernimento muito grande para saber o que é futebol e o que é família e
amigos. Tem que departamentalizar os sentimentos para não ter um
conflito psicológico.
Em algum momento o goleiro Magrão deixou de ser uma prioridade na sua gestão?
- Eu
nunca disse que Magrão não era prioridade e nunca falei em não renovar
com ele. Muito pelo contrário. Conversei com ele para renovar e até
disse que ele poderia ir para o partido nazista que isso não iria
interferir na permanência dele no Sport. Essa foi a conversa que tive com ele e ele
certamente confirmará.
O senhor se arrepende de algo que não fez ou que fez na gestão?
- A
ordem dos fatores não altera o produto e o nosso produto final foi
formidável. O que nós pretendíamos era colocar o Sport na Série A do
Campeonato Brasileiro e conseguimos. Nunca prometi ser campeão do
Pernambucano ou da Copa do Nordeste porque eu mal tinha entrado no clube
e até formar um time seria difícil. Atingimos o objetivo do acesso e
também acompanhamos o nosso problema fiscal sem levantar nenhum outro
passivo. O Sport pagou tudo em dia, amortizou dívidas e ainda investiu
no CT. Acho que foi um ano extremamente exitoso para o Sport.
Por Lucas Liausu Recife GLOBOESPORTE.