Ciro foi a principal arma do Sport na disputa da Libertadores de 2009 (Foto: Reuters).
Em 2009, atacante chegou a ser comparado a Neymar e Ganso, e o Leão
recusou proposta de R$ 10 milhões da Europa. Jogador está sem clube.
Em 15 minutos, um pênalti sofrido e um gol marcado. Mas não foi um gol
qualquer. Surgiu de dois dribles meio desconcertados seguidos de um
chute certeiro. Festa da torcida do Sport, que via um garoto humilde de
Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, sair do anonimato para se tornar a
maior promessa rubro-negra desde Juninho Pernambucano.
Ciro
Henrique Alves Ferreira e Silva tornou-se apenas Ciro depois daquele
primeiro gol, justo na estreia como profissional. Na sequência, lágrimas
de alguém que via sua vida mudar em um lance. Lágrimas de alguém que se
via predestinado ao sucesso. E ele veio, mas ainda não na essência da
palavra .
A cena de Ciro comemorando gols - nem sempre com o choro - se repetiu outras 52 vezes nos 132 jogos em que atuou pelo Sport .
Nesse período chegou a ser uma das principais promessas do futebol
brasileiro. Em 2009, quando foi referência do ataque leonino na
Libertadores, os holofotes estavam sobre ele. Na época, o Brasil também
começava a conhecer Neymar e Ganso e logo foi feita uma comparação. O
bom papel na competição ajudou a supervalorizar o então garoto de 20
anos, que hoje, aos 23, pertence a um grupo de empresários que o
emprestou ao Fluminense até 2014.
- Recebi muitas propostas, inclusive de times da Europa. A principal
foi do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Não lembro ao certo dos valores,
mas era muito, muito dinheiro. Infelizmente os dirigentes da época não
perceberam que aquele era um bom negócio para mim e para o clube -
desabafou Ciro.
A proposta recusada pelo Sport foi de R$ 10 milhões, que o tornaria a
maior negociação do futebol nordestino. No entanto, o pedido do Leão foi
de R$ 15 milhões, recusado pelos europeus.
Após conquistar o Pernambucano, Ciro chegou a
ser chamado de rei (Foto: Agência Estado)
Depois da proposta do Shaktar vieram outras, todas novamente recusadas
pelo então presidente Sílvio Guimarães. Mesmo assim, Ciro continuou
jogando seu futebol. E se em 2009 ele teve nome lançado ao estrelato,
foi em 2010 que se consolidou como um dos maiores artilheiros do clube
nos últimos anos. Foram 13 gols no Campeonato Pernambucano, o que lhe
garantiu a artilharia do torneio, e outros 16 na Série B do Brasileiro.
Foi o ano de Ciro.
- Acredito que 2009 e 2010 foram os grandes anos da minha carreira.
Tive continuidade, estava bem... Mas não era valorizado. Isso me deixou
bastante chateado porque eu ganhava pouco em comparação com o valor de
minha multa.
No entanto, Sílvio Guimarães chegou a desmentir o jogador. Ele garante
que não recebeu propostas oficiais para negociar os direitos federativos
de Ciro. Apenas contatos telefônicos em tom de sondagem.
Acredito que 2009 e 2010 foram os grandes anos da minha carreira. Tive continuidade, estava bem... Mas não era valorizado."
Ciro
- Havia muita especulação, mas não podia confiar apenas em contato
telefônico. É claro que eu queria negociar Ciro, o Sport precisava de
dinheiro. Mas quando chegava uma oferta oficiosa - que se diga - no
valor de R$ 6 milhões, alguns membros da diretoria consideravam o valor
irrisório e não chegávamos nem a abrir negociação.
Com relação aos salários, Sílvio Guimarães foi ainda mais incisivo. O
ex-presidente relatou que em sua gestão o jogador recebeu quatro
aumentos salariais e, mesmo assim, queria receber mais do que o Sport
poderia pagar.
- No começo do meu mandato Ciro recebia R$ 1 mil e passou a receber R$
26 mil ao término. O problema é que ele tinha jogado com Neymar na
Seleção sub-20 e queria ganhar o mesmo que o craque do Santos, que na
época recebia R$ 500 mil. Era e é um absurdo. Tanto que basta ver o
momento dos dois - completou, em tom irônico.
O ressentimento com os mandatários da época, ainda perceptível, ficou
bastante evidente em um episódio ocorrido ainda em 2010. Ciro marcou
três dos cinco gols da goleada rubro-negra diante do América de Natal
por 5 a 0, na casa do adversário. Na entrevista coletiva, o atleta
desabafou e pediu aumento de salário.
- Não me arrependo do que fiz. Disse que não era valorizado, o que de
fato era verdade. As propostas se acumulavam e eu precisava sair naquele
momento porque vida de jogador é curta, mas não me entendiam. Adoro o
Sport, sou rubro-negro de coração. Mas o que estava em jogo era meu
futuro profissional - desabafou.
Mesmo em baixa, Ciro chegou ao Fluminense
ainda como grande promessa do futebol
(Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)
E o futuro passou a ser ingrato com Ciro. Em 2011, surgiu o primeiro
grande baque na carreira. Aos 47 anos, morreu Carlos Augusto, pai e
principal incentivador. O reflexo se viu em campo, quando os gols foram
desaparecendo e seu futebol começou a ser questionado pela torcida.
- Meu pai era tudo para mim. Era meu conselheiro, meu amigo. Quando o
perdi, fiquei sem chão. Por isso, não consegui mais fazer o que tanto
gostava.
De fato, o momento pessoal ruim atrapalhou o desempenho dentro de
campo. No Pernambucano daquele ano, jogou poucas partidas e fez apenas
um gol. No meio do ano, já "desvalorizado", teve seus direitos
federativos vendidos a um grupo de investidores por R$ 4 milhões - bem
menos que a oferta do Shakhtar, segundo o próprio atleta. Os
empresários, então, levaram Ciro para o Fluminense. Era a chance de dar
uma guinada na carreira.
- Minha ida para o Fluminense, para o Rio de Janeiro, foi muito
importante para mim, pelo momento que eu vivia. Precisava respirar novos
ares. No entanto, teve um lado ruim. Lá eu tive a concorrência de
jogadores muito renomados, como Fred, e acabei perdendo espaço. Além
disso, tive de jogar como segundo atacante, o que não é de minha
característica - argumentou, destacando ainda que suas atuações foram
elogiadas pela torcida do tricolor carioca.
Emprestado ao Bahia, Ciro marcou apenas três
gols (Foto: Felipe Oliveiraújo/AGIF/AE)
O fato é que Ciro perdeu espaço e acabou emprestado ao Bahia, onde
atuou na última temporada. Pelo Tricolor de Aço também não conseguiu
repetir o futebol que o colocara como promessa do futebol brasileiro. O
faro de artilheiro também não funcionou: foram apenas três gols durante
todo o Campeonato Brasileiro.
- No Bahia eu tive chances, me dava bem com os companheiros, mas teve
outra coisa que pesou: a cidade. Não consegui me adaptar a Salvador. É
muito diferente do Recife. Não sei explicar bem, mas o jeito de ser das
pessoas é muito diferente - pontuou o atacante.
Assédio feminino segue inabalado
Se o futebol apresentado não é o mesmo de antes - embora Ciro afirme
que não tenha mudado nada nesse aspecto -, o apelo junto ao torcedor, em
especial às torcedoras, segue inalterado. Ele conta que as fãs fazem
loucuras para ter um autógrafo. Pedem assinatura até em peças íntimas.
Ciro diz que carinho dos torcedores não mudou
(Foto: Janir Junior / GLOBOESPORTE.COM)
- Já me pediram autógrafo na calcinha (risos). Mas esse carinho é
bacana. Graças a Deus, minhas fãs não esqueceram de mim. Amo muito
todas, porque me apoiam de forma incondicional.
E o apoio parece ser da torcida do Sport como um todo, não apenas das
mulheres. Enquanto dava entrevista, o jogador foi parado inúmeras vezes
por torcedores que pediam a volta de Ciro à Ilha do Retiro em 2013.
Alguns torcedores do Náutico também chegaram a declarar interesse em ver
o jogador com a camisa alvirrubra na próxima temporada.
- Não escondo meu amor pelo Sport. Não sei como seria jogar no Náutico
ou no Santa Cruz, mas, como dizia meu pai, preciso ser profissional. Por
isso, não descarto a possibilidade de defender essas equipes - disse,
de forma política.
Mas o
foco de Ciro, no momento, está longe de Pernambuco
e até mesmo do Fluminense, que já deixou claro que pretende emprestá-lo
mais uma vez. Ele tem propostas do futebol português, e, mesmo que não
se mostre ansioso por jogar na Europa, entende que, independentemente do
clube para o qual se transferir, vai precisar mostrar novamente o
futebol que o tornou uma promessa.
- Aquele Ciro do Sport vai voltar, seja na Europa, seja no Brasil.
Estou focado no meu trabalho, tanto que estabeleci minha meta para o ano
que vem: terminar a temporada com 25 gols. Essa é minha ambição e vou
conseguir.
Por Daniel Santana
Recife - GLOBOESPORTE.
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