No reencontro com a Primeira Divisão depois de dois anos, o Sport
queria mais. Vinte e sete dias após as eliminações na Libertadores e no
Carioca, o Flamengo precisava dar uma resposta aos torcedores. Nem lá,
nem cá. Neste sábado, os clubes rubro-negros estrearam com um empate por
1 a 1 no Campeonato Brasileiro. Na Ilha do Retiro, no Recife, os gols
só saíram no segundo tempo: Marquinhos Gabriel abriu o placar para o
Leão, e Vagner Love empatou para os cariocas. Os pernambucanos foram
melhores na maior parte do jogo, mas não souberam segurar a vantagem e
aproveitar a empolgação da torcida. Foram 28.636 presentes, e renda de
R$ 606.770.
Apesar de voltar ao Rio com um ponto na bagagem, o time de Joel Santana
ficou devendo na estreia. E poderia ter sido pior, se não fosse a ótima
atuação do goleiro Paulo Victor, sobretudo na primeira etapa. O tempo
livre, sem um joguinho sequer no período de quase um mês, não foi
suficiente para corrigir erros cometidos no primeiro semestre. A
primeira impressão deixa claro: há muito trabalho a fazer. Apagado em
campo, Ronaldinho ficou satisfeito com o resultado e gostou da
participação de Deivid, que entrou na segunda etapa:
- Com a entrada do Deivid, tivemos a oportunidade de criar mais
chances. Estamos felizes porque foi um empate fora de casa. Temos que
ajeitar a forma de jogar e dar moral aos garotos que estão chegando -
disse R10 à Rádio Globo.
- Foi um jogão, era lá e cá. Nós nos retraímos no segundo tempo, mas
valeu pelo empate, por enfrentarmos uma grande equipe - afirmou.
Na segunda rodada, o Flamengo recebe o Inter, sábado, às 18h30m, no
Engenhão. No dia seguinte, o Sport visita o Santos na Vila Belmiro, às
16h.
Se não fosse Paulo Victor...
Um ano que teima em não terminar para Sport e Flamengo. É 1987. Seja no
Recife, seja no Rio, sempre que os rubro-negros se enfrentam a polêmica
dá as caras. Neste sábado, a chance de provocar foi dos torcedores do
Leão. Durante o aquecimento da equipe carioca, o locutor do sistema de
som da Ilha do Retiro berrou repetidas vezes que o clube pernambucano é o
campeão brasileiro daquela temporada, como reconhece a CBF. Na entrada
do time em campo, uma das torcidas organizadas exibiu uma faixa com
números e letras garrafais: ‘87 é nosso’.
O primeiro tempo foi do Sport. Não chegou a ser uma superioridade
gritante, mas os donos da casa fizeram mais pressão, chutaram mais vezes
(sete finalizações contra três do adversário), se apresentaram mais
dispostos. Foram pelo menos cinco ótimas oportunidades a partir dos 20
minutos. Não fosse Paulo Victor, substituto de Felipe, o placar não
teria ficado em branco. O goleiro foi seguro e fez grandes defesas.
Parou, em sequência, Marquinhos, Edcarlos e Thiaguinho. Este último num
lance que começou com uma cobrança de falta ruim de R10. O atacante
armou um contra-ataque para o adversário e não ajudou na marcação.
A proteção dos zagueiros Welinton e Marcos González e do volante
Rômulo, quase um terceiro defensor, falhou. Na esquerda, Magal não
conseguiu marcar as subidas de Moacir. O Flamengo teve mais posse de
bola (52% contra 48%), mas na maioria do tempo não soube o que fazer com
ela. Um meio-campo sem criatividade, lento e pouco objetivo travou as
jogadas ofensivas. Bottinelli e Kleberson não foram bem. Na frente,
Ronaldinho Gaúcho e Vagner Love se movimentaram, mas foram marcados sem
dificuldades por Bruno Aguiar e Edcarlos. Love se enroscou tanto com os
defensores que chegou a acertar uma cotovelada em Tobi, que sofreu um
corte no rosto.
Antes da pressão do Sport, o time de Joel Santana só havia levado
perigo aos 14 minutos, numa cobrança de falta de longe de R10 que passou
perto do ângulo esquerdo de Magrão. Depois disso, só voltou a assustar
no fim da primeira etapa. Após rápida cobrança de falta, Kleberson ficou
livre para marcar, mas o goleiro fez bela defesa.
Leão abre vantagem, mas Fla responde
Reencontrar o torcedor na Primeira Divisão depois de dois longos anos
fez bem ao Sport. Empurrado por uma Ilha do Retiro empolgada, o Leão foi
à caça. Voltou para o segundo tempo pronto para decidir, tomar conta do
campo e do jogo. O problema era vencer Paulo Victor. Em grande forma, o
goleiro impediu que Marquinhos Gabriel marcasse. Aos nove, a cobrança
de falta saiu forte e rasteira, mas PV caiu no cantinho esquerdo para
espalmar. Pouco depois, aos 12, não houve chance. Moacir recebeu
lançamento pela direita, passou por Magal sem dificuldades e chutou
cruzado. A bola bateu em Léo Moura e voltou para o meio da área. Livre,
Marquinhos Gabriel acertou o ângulo direito de Paulo Victor. Ilha do
Retiro aos pulos: 1 a 0.
Os técnicos mexeram nas equipes. O interino Gustavo Bueno - Vagner
Mancini assume nesta segunda-feira -, tirou Thiaguinho e Naldinho para
as entradas de Renê e Diogo. Joel, que já havia trocado Rômulo (com
câimbras) pelo estreante Amaral no intervalo, lançou Deivid no lugar de
Bottinelli. O Sport seguiu na pressão e assustou na bola parada, mas por
pouco não sofreu o empate, aos 20. Acionado por Deivid, Vagner Love
ficou de frente para Magrão, mas tirou do goleiro e do gol. Chance
incrível desperdiçada.
O erro do Artilheiro do Amor marcou o despertar do Flamengo. O time
passou a ser mais agressivo, Léo Moura e Magal subiram para apoiar, e
Deivid deu mais volume ao ataque. Aos 28, Kleberson encontrou Love entre
Edcarlos e Tobi e conseguiu uma assistência precisa. O goleador não
jogou a segunda chance fora. Toque na saída de Magrão, empate do
Flamengo.
Algumas boas investidas ainda deram esperança aos flamenguistas que
foram à Ilha de ver uma vitória na estreia, mas a zaga leonina soube se
defender. A última grande chance, no entanto, foi do Sport, aos 44
minutos. Renê recebeu pela esquerda e cruzou na área. A bola passou por
todo mundo e caiu nos pés de Moacir. O lateral cruzou, Welinton tentou
afastar e bateu de joelho na bola, que tocou no travessão. As férias
forçadas acabaram, mas o Deus-nos-acuda do Fla continua. Para o Leão,
uma volta com disposição à elite.
Por Richard Souza
Direto do Recife - GLOBOESPORTE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário