por Julio Gomes, blogueiro do ESPN.com.br
De repente, a frase parou. Ele olha para o canto alto esquerdo da sala, lotada de jornalistas. Era bem onde eu estava. Mas Dunga não falava comigo. Falava com Alex Escobar, da TV Globo, sentado duas poltronas mais para cima.
"Algum problema?", perguntou Dunga, interrompendo a resposta sobre Luis Fabiano. "Eu?", perguntou Escobar. "Não estou nem olhando para você, Dunga."
O diálogo surreal parou por aí. Mas a cada momento em que eram feitas perguntas, Dunga olhava na mesma direção e murmurava, balbuciava. Brincadeiras? Comentários com alguém que estivesse ali perto? Não, não. Palavrões. Alguns vazaram pelo sistema de som.
Para quem eles estavam direcionados? Ele olhava fixamente para Escobar. E eu sei disso porque, como disse, estava apenas duas poltronas à frente. A direção do olhar é incontestável.
O que Escobar terá feito para Dunga? Não tenho a menor ideia. O que tenho é quase certeza de que não foi nada demais. O ressentimento é impressionante. As coletivas são tranquilas, normais, com perguntas objetivas e não ofensivas. As respostas são, quase sempre, agressivas, duras, mal-educadas. Isso quando não sobram os palavrões murmurados.
No fim da entrevista, sobrou para os jornalistas até mesmo o fato de os jogadores não terem tido folga depois da primeira partida e nem hoje, dia seguinte à segunda.
"Após o jogo, a gente sempre tenta fazer a recuperação. Se dá dia livre para sair, vocês vão atrás dos caras! Aí não é folga, é trabalho", esbravejou Dunga.
Oras, nossa função é ir atrás deles mesmo. Se querem dar entrevistas, ótimo. Se não querem, fazer o quê? Só Robinho furou o bloqueio ao falar com a Globo em uma folga. Levou bronca. Desde então, eles não tiveram mais dia livre.
E a culpa é nossa! Isso mesmo. Os jogadores não têm folga por culpa da imprensa. É tudo culpa da maldita imprensa!
Dunga, na minha opinião, acerta ao acabar com as regalias da cobertura da Copa. Eu vi coisas em 2002 e 2006 que davam asco, nojo. Isso acabou com Dunga. Mas ele erra ao colocar todo mundo no mesmo saco, ao perder a linha, ao tentar criar uma guerra para dar um motivo a mais para seus jogadores se motivarem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário