Após duas boas partidas na África do Sul, o canhoto e baixinho Messi entrou em campo com a camisa 10 azul da Argentina, pressionado para relembrar os melhores dias do uniforme na pele de Maradona. Sem Mascherano, ganhou até a braçadeira de capitão, como voto de confiança do treinador, antigo dono do posto. Há exatos 24 anos, o Pibe usou o uniforme reserva dos hermanos e marcou dois gols históricos contra a Inglaterra, nas quartas do Mundial no México (um de placa e a “Mão de Deus”). Em 1994, fez seu último tento – com a mesma camisa – em Copas na goleada de 4 a 0 sobre os gregos.
Aos 22 anos, Messi tornou-se o capitão mais jovem da história argentina em Mundiais, superando Passarella, que em 1978 tinha 25. Na Copa de 1986, Maradona foi o capitão com 26. O Pibe cumpriu a promessa de poupar seus jogadores (só Samuel está machucado e Gutierrez suspenso) e escalou apenas quatro titulares: Messi, o goleiro Romero, o zagueiro Demichelis e o meia Verón, recuperado de lesão.
Antes de a bola rolar, um momento família. Carlitos Tevez, que não jogou, foi até a torcida e pegou a filha no colo. Dentro do gramado, virou a menina de cabeça para baixo, colocou nas costas, caminhou de mãos dadas e se divertiu.
Do outro lado, o técnico Otto Rehhagel não queria saber de diversão. Ainda confiante na classificação, ele não se expôs diante do time B de Don Diego: deixou Samaras solitário no ataque e armou sua retranca, com Sokratis na cola de Messi.
Se a intenção dos gregos era amarrar o jogo, o primeiro tempo foi um sucesso: pouca coisa aconteceu no gramado em Polokwane. Os primeiros lances de perigo só vieram aos 17 minutos, quando o goleiro Tzorvas fez duas boas defesas em chutes de Agüero (dentro da área) e Verón (fora dela).
Messi só deu as caras aos 22, quando driblou Sokratis e levou a primeira pancada do dia. Por falar em pancada, Papadopoulos levou a pior numa dividida e deixou o campo com a boca sangrando. Voltou com um gigantesco chumaço de algodão na boca.
Como a Grécia não incomodou durante todo o primeiro tempo, a Argentina resolveu agir. Tudo bem que as duas melhores chances só vieram aos 45 minutos. Primeiro com Máxi Rodriguez, que recebeu livre na área e bateu para a defesa de Tzorvas. O goleiro apareceu de novo logo em seguida, espalmando para escanteio um chute de Messi, que deu um corte seco no zagueiro e bateu de fora da área.
Na saída para o intervalo, Maradona não parecia nada satisfeito. Ao contrário dos dois primeiros jogos, quando cumprimentou todos os jogadores, caminhou direto para o túnel com cara de poucos amigos.
Logo no segundo minuto da etapa final, Demichelis deixou o Pibe mais zangado ainda. Após falhar grosseiramente no gol da Coreia do Sul na rodada passada, o camisa 2 caiu sentado em disputa de bola com Samaras, que recebeu lançamento longo, passou pelo zagueiro, invadiu a área e bateu cruzado, rente à trave de Romero. Do lado de fora, Maradona só cruzava os braços.
Os gregos apostavam em Samaras contra a duvidosa defesa argentina. Mas o camisa 7 ficava sozinho na frente, recebendo chutões. Do outro lado, Messi rodava de um lado para o outro. Parecia procurar Tevez, Di Maria, Higuaín... chegou a trombar com Maxi Rodríguez, que não saiu de sua frente em uma jogada aos oito. Quatro minutos depois, o outro Rodríguez, Clemente, arriscou de longe, para fora.
A torcida argentina, maioria entre os 38.891 presentes no estádio Peter Mokaba, se empolgou. Mas os hermanos só voltaram a ter uma chance dez minutos depois. A antepenúltima de Messi. Em uma falta de longe, o camisa 10 bateu bem, e Tzorvas salvou.
O gol argentino começou a amadurecer aos 24. Verón cobrou escanteio, Demichelis raspou de cabeça, a bola ficou com Bolatti na pequena área e o volante chutou em cima do goleiro. Cinco minutos depois, uma cena digna de “Trapalhões” na defesa grega. Tzorvas chutou a bola, mas ela bateu em Moras e saiu. O goleiro ficou zangado e reclamou do posicionamento do volante.
Aos 32, enfim, o gol argentino. Messi cobrou escanteio da esquerda, e Demichelis se redimiu das lambanças. Ele cabeceou, a bola bateu no braço de Diego Milito e voltou para o zagueiro, que encheu o pé: 1 a 0, 100% de aproveitamento. A torcida pediu “vamos, vamos”, e a Argentina foi.
Messi ainda teve mais duas oportunidade. Uma aos 40, resultado de uma tabelinha com Di Maria e um chute de fora da área que explodiu na trave. Depois, aos 43, costurou de novo a defesa adversária e bateu para mais uma defesa de Tzorvas. Desta vez, a Jabulani sobrou redonda para Martin Palermo. O atacante empurrou para dentro e fechou o placar em 2 a 0. Messi não balançou a rede, mas ao menos justificou a braçadeira que carregava no braço.
Tzorvas, Kyrgiakos, Vyntra, Papadopoulos e Torosidis (Patsa); Moras, Tziolis, Sokratis, Karagounis (Spyropoulos) e Katsouranis (Ninis); Samaras. | Romero, Burdisso, Otamendi, Demichelis e C. Rodriguez; Bolatti, Verón e Máxi Rodriguez (Di Maria); Messi, Agüero e Milito |
Técnico: Otto Rehhagel | Técnico: Diego Maradona |
Gols: Demichelis, aos 32, Palermo, aos 43 do segundo tempo. | |
Cartões amarelos: Katsouranis, aos 29 do primeiro tempo, Bolatti, aos 31 do segundo. | |
Estádio: Peter Mokaba (em Polokwane). Data: 22/6/2010. Horário: 15h30m. Árbitro: Ravshan Irmatov (Uzbequistão). Assistentes: Bakhadyr Kochkarov (Quirguistão) e Rafael Ilyasov (Uzbequistão). |
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